terça-feira, 25 de agosto de 2009

Fora de tempo

Flâmula, Iphiclides feisthamelii

Hoje foi o último dia de férias urbanas.
A distância, depois de levar o mais novo à escola, o computador sorve-me a atenção. Revolto-me. O sol chama-me a atenção nestas dez horas de manhã de Maio, terça-feira.

O Parque de S. Roque, no Porto, está próximo. Depressa chego lá.
Passado o portão de chapa, pintado de verde, nem a invasão de eucaliptos desmerece a luz coada pelas folhas das árvores de folha caduca, agora vestidas de um verde singular. Um lódão, um pseudoplátano, um loureiro juvenil…

O rio Douro vê-se ao longe, majestoso. Sem que o distinga, um estorninho canta à maneira da espécie. Terá ninho nalgum buraco de árvore próximo que não descortino?
A calçada desce batida a granito. As manchas de sol chegam ao solo e o tempo já pede manga arregaçada.

As malhadinhas andam à sombra, abrigadas dos espaços abertos. Mais comuns que estas borboletas castanhas são os melros. Os relvados verdes banhados de sol expõem-nos. Não se importam estas aves. Será a pressão de conseguir alimento para as crias no ninho, a expressão corporal inofensiva do humano que passa quando o parque recebe apenas duas turmas de infantário de crianças de 4 anos? Se parasse e os olhasse fixamente voariam depressa.

O parque tem muros de granito ainda sem cimento que os conspurque. Plantas como as heras, as cimbalárias, alguns fetos colonizam-nos e servem de habitat para diversos insectos, anfíbios e répteis. Não será de desdenhar que alguma ave, como um casal de chapins-negros, ali faça ninho.
Cá em baixo, o lago de jardim onde nadam peixes vermelhos está ainda à sombra. No topo de uma árvore mais alta, ao sol canta um verdilhão. O ninho está perto!

À minha esquerda voa uma das grandes borboletas da nossa fauna: a flâmula. Às vezes parece que nem precisa de bater asas para iludir a gravidade.
Por vezes, passa-se num habitat que, com um arranjo mais rural, propiciaria a presença do lagarto-de-água que, mesmo assim, pode por ali existir, bem como o sardão-ocelado, bem maior.
Alguns sobreiros falam de um incêndio que terá havido, árvore prodigiosa da bacia do Mediterrâneo, grande sobrevivente e alma do montado, que domina no Alentejo.

Não levei máquina fotográfica. Mas o património traz a memória, que retém imagens. Herança da espécie humana que lhe ofereceu eficácia de sobrevivência, agora que o sol nem com as manchas de cimento deixa de dar vida à Terra.

Ao subir vejo um cartaz com as aves mais habituais dos parques portuenses. Curiosamente muitas das que vi mais facilmente não constam e constam outras que dificilmente verão os visitantes. O mesmo para as árvores, se pensar no painel colocado perto da entrada.
2009-05-05, Jorge

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