terça-feira, 14 de agosto de 2012

O paradoxo do verme

Bem, quem quer saber de minhocas?

Depois de mais de um ano de paragem que estranha maneira de recomeçar...

Podia ter sido com gaivotas. Sim, este ano as primeiras crias que vi nos telhados datam de 17 de julho.

Mas não. O mais importante primeiro. E aí as minhocas batem quase, quase tudo aos pontos.

Charles Darwin bem o sabia quando as estudou durante longos anos. Não as veria apenas como seres húmidos, repelentes, capazes de meter asco à mais depurada donzela.

Uma terra sem minhocas é uma terra pobre.

Fertilizam, libertam nutrientes, revolvem o solo, nada pedem em troca e só se desativam quando não lhes damos mesmo hipótese, o que acontece quando se impermeabiliza ou contamina o solo, etc.

Como não as vemos e nem sequer lhes ocorre fazer greve, elas perdem, e nós também.

Veja este vídeo. Diz muito em poucos minutos!

domingo, 7 de agosto de 2011

Fácil mais fácil não há

Bem, confesso que não andava à procura e encontrei.

O cadernito é oferecido até em português num site ligado à União Europeia e surge assim como uma clareira no meio dos noticiários copy-paste a que a "grande imprensa" do audiovisual nos habitua.
As referências ao colapso do financeiro mundial vigente, no vazio de soluções, abrem lugar às raízes do ser humano, que estão na natureza. Veja do que se está a falar, é grátis: 
http://bookshop.europa.eu/pt/52-gestos-para-a-biodiversidade-pbKH3210600/

O regresso à agricultura, urbana e rural, parece ser uma solução. Dependeria sobretudo do poder local e da vontade de cada um.
Se tivesse um palmito de terra cultivável, neste momento estava na horta. Exercício físico, contributo para a biodiversidade, compostagem, um pequeno charco, e depois sazonalmente poderia saborear o fruto desse labor que dá saúde.
Na falta disso, há que passar a palavra.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Quem vai ao mar perde o lugar


Ontem vi a primeira cria de gaivota-de-patas-amarelas, Larus michaelis, no telhado em frente. Era apenas uma.

Ainda vou conferir, mas parece-me que foi mais cedo algumas semanas do que em anos anteriores.

Esta deve ter chegado de telhados mais distantes da vista, a avaliar pelo voo temerário, talvez do prédio das Finanças, onde se juntam em bando por estes dias perto de 50.

Rodeavam-na uma série de gaivotas adultas da mesma espécie, em alarido, barulho que no final do dia 11 já estava em curso nos tais telhados mais afastados.

Estamos a nem uma dezena de quilómetros do mar, mas estas, apesar das patas com membranas interdigitais, não devem pôr o pé na água, suponho.

Nunca como nestes dias o ditado "quem vai ao mar perde o lugar" fez tanto sentido.

Agarrar e defender o ano inteiro um telhado sobranceiro a uma pessoa condoída destas aves de voo planado, é uma valia rara, para elas preciosa.

Há dois dias, pelas 8h30, ao virar no semáforo vi no meio da rua uma gaivota adulta a bicar calmamente uma pomba inerme.

Duas semanas antes, perto do meio-dia, a 5 km dali estava uma outra gaivota junto à rua com uma pomba já sem cabeça.

"A gaivota é uma ave nobre, não é?", perguntava, inocente, o Mário há mais de uma década.

Não é nobre por caçar e comer pombas e crias de pato, nem tão-pouco pelo voo liso com que se desloca no ar.

A nobreza tem a ver com atitudes, altruísmo, generosidade, coragem, estoicismo. Isso já não é tão fácil de perceber.

Valores talvez raros, quando existem, discretos, tanto ontem como nos dias que correm.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

As vermelhuscas - por fim!



Este ano vieram mais tarde.

É normal vê-las em Março, mas hoje durante o almoço vi dois casais em perfeita cópula.

O primeiro par andava aos «pulos» na superfície da água, presumo que já a pôr ovos. Ou outro apenas o vi a sair de um outro sítio, atracados, e perdi-os de vista.

Na sequência de surgimento da forma adulta destas libelinhas, estas são as que dão o primeiro passo, segundo me tenho apercebido. Não sei de nome comum específico - por isso, Pyrrhosoma nymphula (Sulzer, 1776).

Depois, há-de ser um corropio de outras espécies a sucederem-se, aparecendo a últimas bem mais para diante, no Outono.

Cá por mim, terão o seu valor, mas não tanto como as moscas polinizadoras, ou as abelhas, abelhões e vespas, sem esquecer as mariposas. A fertilização de frutos e sementes nunca seria a mesma se estes seres atarefados fizessem greve, ou pior, fossem desaparecendo.

É por isso que num zumbido ou num desses bater de asas faz vibrar o universo e ouvi-lo e vê-lo é um privilégio que leva um sorriso ao céu azul.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Salgueiro tombado



Parece que a vida persiste sempre em ensinar-nos caminhos no seguimento da árvore que vi hoje, tombada, porém, cheia de flores.

Era um salgueiro-negro, masculino, com aqueles pompons brancos de estames amarelados, tão apreciados quer por toutinegras quer por insectos vários.

Fiquei a pensar no exemplo dele. Mesmo derrubado, continua em plena floração, mais generoso do que nunca.

domingo, 9 de janeiro de 2011

O primeiro pampilho

Pampilho


Bem-vindo foi o solstício de Dezembro.
É certo que a curto prazo lhe caiu em cima mais um dia curto, mas adivinha-se o ponto de partida para dias maiores, mais iluminados.

Esta semana vi os primeiros pampilhos, corola amarela, na beira da estrada, não longe do mar.
Em poucos dias reparei que onde a luz do dia se demora mais tempo já os mais apressados florescem e acenam com alegria às moscas e aos abelhões.
Também um ulmeiro me deixou na vista, de passagem, rebentos anunciados, bem longe da queda de folhas de há pouco mais de um mês.
Os carvalhos-alvarinhos mais expostos ao sol ostentam agora evidentes rebentos que vão aparecer talvez em Fevereiro, flor caprichosa, discreta, a espalhar pólen à fartazana.

Mais acima, nas serras, este tímido bafo ameno do tempo chega mais tarde. Imparável, o sol vem aí. Manda ele no ritmo da vida, e todos aguardamos por ele.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Muros


Fez-se o muro, pedra sobre pedra.
Vem o bafo do tempo. 
O feto verde, rendilhado, de nome avenquinha vê no puzzle rústico a propriedade vertical perfeita para habitar.
Os conchelos aparecem, folhas carnudas, circulares, multiplicam-se como se não houvesse consenso: umbigo-de-vénus, chapéus-de-parede, bacelos ou conchelos? 
Suaves crescem musgos, as hepáticas parecem dedos verdes, espalmados sobre a rudeza do granito rústico.
A saxífraga aparece, espalham-se gerânios silvestres, uma dedaleira deita as folhas verdes ao frio.
A sardanisca é o dragão dos muros que aparece só ao melhor sol do meio-dia. Espalma o corpo, vira-se como um painel solar à luz.
Não era altura de hibernar?
Não estão para aí viradas: lembram crianças travessas que não querem dormir.