Os municípios que se distribuem pela ria de Aveiro desejam atrair visitantes. Criam percursos de ar livre e natureza, como ocorre em Estarreja ou na Murtosa. Colocam painéis com informações sobre a paisagem, a cultura, a flora e a fauna das localidades que miram a água que fugiu do mar.
O insistente voo de garças e de cegonhas pelo imenso espelho de água que é esta ria não deixa cair este tesouro ecológico no esquecimento.
Algumas das aves destes habitat têm estatuto de protecção elevado, como a garça-vermelha ou o papa-ratos, e atraem a atenção de observadores. O mundo vivo que ali gravita, agrega flamingos e maçaricos-galegos, colhereiros e pernilongos, guarda-rios e águias-sapeiras, entre bandos de inumeráveis espécies que ora residem todo o ano, ora passam em migração entre locais tão distantes como a África além do Sara ou o Norte da Europa.
Não é só de aves que se faz a ria. É sobretudo de paisagens pintadas pelo sol em caprichos diferentes e nelas as ordens de plantas e animais se exprimem às centenas ou milhares como obras-primas ignoradas.
Ah, a salicórnia! Imersa e emersa, segundo a maré, consegue viver na água salgada. Ao sopro do primeiro frio de Outono enrubesce, e reverdece no resto do ano. O caniço, as muitas plantas da dunas... até a bodelha, Ficus sp.
Fluindo entre as praias de junco e os moliceiros, a ria de Aveiro é um capricho temporário da natureza.
Desenhada pelo mar, fez-se de areia e vento ao sabor das ondas.
Disse o pescador de rugas marcadas, corpo franzino, nascido, insistia, mais pobre que Jesus: a fixação da barra em Aveiro dá lanço às correntes e por isso não há raiz que sustente o moliço da ria; logo, os chocos que vêm a desovar, e com eles outras espécies, não têm onde fixar os ovos - fica o espaço tomado apenas pelos caranguejos.
Passa o sável na Primavera para desova mais acima, em rios ou ribeiros, andam ali solhas, mas a riqueza de peixe e moluscos da ria de outros tempos, menos artificiais, está agora ausente.
Permanece o sol dourado do fim da tarde, o mar que ali se aquieta, as redes que vasculham a água, e todos os bateres de asa que permanecem à procura do futuro.
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