quinta-feira, 15 de abril de 2010

Andorinhões: viajores de longo curso

Hoje, pouco depois das 9h00, tive o prazer de ouvir os meus primeiros andorinhões deste ano.
Ia já na Baixa do Porto, pouco depois das 9h00, e ouvi-os: olhei para o céu, e lá estavam uma meia dúzia, altos, quase a tocarem nas nuvens com vontade de chover.

Cinco minutos antes, ouvi um pintassilgo, aproximei-me da árvore citadina, e era mesmo. Tem ninho por ali, entre a Rua Sá da Bandeira e Gonçalo Cristóvão...

É como se as flores que se sucedem, de plantas nativas e de exóticas, chamassem residentes, pequenos e grandes migraodres.

As vocalizações dos andorinhões, numa vida de velocidade, filhos do ar que quase não tocam terra, não denotam uma fragilidade notória: ai deles se pousam no chão, por acidente ou inexperiência, a envergadura das asas e as patas encurtadas não lhes permitiria alçar voo novamente; só pegando neles e atirando-os ao ar.

Iriam de passagem, mais para norte, estas aves insectívoras. Os que ficarem por aqui, que irei ouvir como todos os anos, talvez em Junho, à janela, com a banda sonora do jantar, ainda poderão estar agora, quando o sol se ausenta, a voar sobre o deserto do Sara...

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Montemuro: Noninha à vista

Geometrídeo, Eurranthis plummistaria

Nunca me tinha sido apresentada. E, naquele plano inclinado da serra de Montemuro, assim que as eólicas com prazer ficaram para trás, comecei por ver uma esvoaçar, prudente e selvagem.

A princípio vi-a tão mal que me parecia uma malhadinha. Não me deu confiança. Mas vi outra idêntica, e já me parecia o padrão de alguma Melitaea, espécies que poucas vezes vi, só nalgumas férias.
Voo baixo entre carqueja, numa brisa a definir-se fria, por fim comecei a ver que, afinal, nada disso, eram machos de algum heterócero, o grupo das chamadas borboletas nocturnas.
Por fim, naquela encosta quase do topo até metade da vertente, terei visto umas 40, e algumas consegui fotografar, se calhar com a ajuda do rebanho de ovelhas e cabras que as terá concentrado, à esquerda do curral da transumância.

Cheguei a casa, não achei que merecesse dúvida. Tive a sorte de acertar com a família à primeira. Era um Geometrídeo de tamanho médio.

Ao fundo, a aldeia de Noninha. Quase uma hora passou até chegar à povoação encaixada em prados verdes, onde  a água se faz princesa e os amieiros lhe fazem vénia, pé no ribeiro.

Imaginei aquelas encostas, agora em triste erosão, cheias de carvalhos, bosques enraizados, geradores de terra fértil, protegidas pela bênção da manta-morta feita de folhas, raízes, fungos, invertebrados e uma teia de vida complexa, rica, que a ciência ainda está a começar a entender. Esponjas vivas que retêm a água da chuva, da neve, e a soltam pelas linhas de água, paulatinamente, ao longo do ano, até ao mar.

Lá em cima, na base das eólicas, o fumo de pequenos fogos, ateados na ideia de fertilizar pastos. Terra exposta ao vento, ao sol, à água que corre a ansiar pela queda livre, quando a terra se perde, a rocha surge, e o deserto começa lá em cima, ganancioso, com vontade de cair sobre o vale.

As grandes civilizações surgiram onde foi grande a biodiversidade. Passada a exaustão, o consumo saturado de recursos naturais, são hoje desertos. Onde era a Mesopotâmia hoje o GPS aponta o Iraque...

Até quando baterão ali as asas, num início da Primavera fria aos mil metros de altitude, estes geometrídeos que, confuso, me pareceram a tenaz malhadinha e depois, noutra aproximação, alguma frágil Melitaea...