sábado, 31 de julho de 2010

Uma borboleta das que nunca me tinha sido apresentada

Arethusana arethusa
Nunca pensei vir a encontrar esta espécie tão parecida com uma outra de distribuição bem mais restrita. Esta última, segundo o livro de Maravalhas, «Borboletas de Portugal», apenas se observa em Portugal na zona dos Cântaros, no Parque Natural da Serra da Estrela, e em Montesinho, num sítio junto da fronteira.
Se a Patrícia e o Zé não me ajudassem, ainda hoje andaria na dúvida, se era uma ou outra!
De regresso da Lagoa Comprida desci, ao invés de preferir passar pelo centro de Seia, virando à esquerda pela pequena estrada que desce cheia de estreitas curvas até à Senhora do Desterro.
Nunca tinha passado por ali e quis experimentar.
Passada meia dúzia de minutos, uma das curvas deixou entrever uma formação rochosa, granítica, que lembrava um rosto com nariz voltado para a direita da trajectória da estrada, mas antes de ali chegar vi à minha esquerda, na berma, um agrupamento de cardos em flor pejados de borboletas: melanargias, hesperídeos, alguns pierídeos vulgares, mais ninfalídeos...
Parei o carro, saí e tentei ver melhor o que passava. As borboletas em geral - sobretudo as melanargias - pareciam anestesiadas. Numa tive mesmo de lhe tocar para me certificar de que estava viva: voou pachorrenta.
Por vezes as aranhas ficam nas flores, escondidas pela cor idêntica, e quando um insecto à sua medida passa, basta cravar as quelíceras, aguardar que os químicos façam efeito, e aí vem uma sopa nutritiva à maneira.
No meio disto vejo um satirinídeo (uma subfamília de borboleta) diferente dos que já conhecia, de tamanho médio. Era apenas uma, não mais.
Distinguia-se facilmente das pirónias, das C. dorus, C. pamphilus, ou de outras minhas conhecidas. Era mais arisca e, se lhe desse para isso, num bater de asas desapareceria dali sem apelo nem agravo - num par de anos deixaria de me lembrar dela.
Sem movimentos bruscos registei-a com o pormenor possível, sem a lente macro que nunca tive, sempre de asas fechadas, naquela manhã de 30 de Julho em que passei na serra da Estrela, de férias.
E viva a fotografia instrumental!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Stress x sementes

S. spini, família: Licenídeos
Um ano de casca extraída, a árvore ainda nem gagueja...



Dia de sol, logo de manhã perto dos 30 graus.
A 10 Km da mata do Desterro, perto de Seia, impunha-se revisitá-la.
Há um ano decorreu uma experiência de controlo de espécies vegetais exóticas, mais concretamente de mimosas, Acacia dealbata.
A experiência consistia em extrair a casca em toda a volta da árvore. Com esse lapso vital, seria de esperar que ficasse decrépita.
Ora, passado um ano, apenas o cocuruto arrepiou. Será sol de pouca dura? Nalguns sítios, o chão parece tão pejado de sementes desta espécie que até parece que a regra geral «stress imposto a uma árvore aumenta a produção de sementes» fica ainda mais evidente.

Anda pelos 500 metros de altitude a mata do Desterro, creio.
Confesso que estava mais filado nas borboletas e num lagarto-de-água que costuma esconder-se num fio de água na beira do caminho. Com tudo rapado, consegui ver um pré-adulto a fugir.

Vi na segunda-feira passada que o esforço de esterilização foi quase perfeito. Esqueceram-se de cortar apenas um pequeno tufo de Mentha sp. e outras que, em flor, ancoraram, para minha fortuna, algumas espécies de licenídeos, inclusive a spini. Do outro lado da moeda ficou uma face cinzenta: não valia a pena voltar lá este Verão.

Estas ideias contumazes de "esterilização" parecem recorrentes por toda a parte, como se a diversidade da vida guardasse horrores. Alimentado o mito das "ervas daninhas", muitas delas tão úteis na orla dos bosques pelo papel ecológico insubstituível que desempenham, a foice altamente produtiva não titubeia.

O corte deveria ter deixado se não corredores pelo menos algumas ilhas intencionais dessas plantas tão importantes para um grande número de insectos.
Vê-los, justificaria um visita diária, com surpresas certas na lista de espécies que iria conseguir ver. Como a solução foi à imagem dos maus episódios da velha história deste pequeno país, há que procurar outros sítios mais vivos, mais selvagens.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Crias de gaivota

Vi ontem três crias de gaivota-de-patas-amarelas, Larus michaellis, na sua versão urbanizada, em cima de um telhado, a cerca de 100 metros da minha janela.
E mais não digo, que tenho pressa de ir uma semana de férias...