quarta-feira, 26 de maio de 2010

As primeiras cinzentinhas

 Leptotes pirithous... à falta de melhor nome, é uma cinzentinha!


Vi a minha primeira cinzentinha há dois dias, meia trôpega, fosse pela eclosão recente fosse pela aragem fria da manhã.

Entre tojo e urze, esvoaçou sobre a terra, arisca, e desapareceu num voo que parecia às cambalhotas.

Desde então não parei de as ver. Inclusive hoje, à hora de almoço, vi duas em aceso namorico, com aqueles bateres de asas vibrantes, pousadas, até que de costas voltadas, pimba, como diria o moço da cantiga do mesmo estilo!

Não me fica bem essa curiosidade, à distância, mas é difícil resistir, embora sempre de maneira a não perturbar os ritmos. Grande mecânica a do ADN que dispara essas pulsões, com feromonas à mistura, para perpetuar o seu sonho de eternidade.

E... cuidado com este ADN! Estamos perante a borboleta da família dos Licenídeos mais fácil de encontrar daqui até ao Outono, em várias gerações, com uma distribuição, pelo menos em Portugal, enorme.


Sem a fímbria dourada das raridades, ou das ameaças de extinção, se a minha memória não vai de patins, as plantas que hospedam a postura desta espécie são as do grupo das ervilheiras e afins, tais como os codessos e giestas.

Nunca vi a lagarta desta espécie, que será certamente pequenita. De quem usa lentes progressivas e para quem as gralhas de imprensa cada vez são mais miméticas,  não há muito a esperar: vê-la só em grande contraste, à lupa, preto no branco...

Feito o somatório, fica na ponta do nariz, para não trocar os olhos, o voo repetido destas cinzentinhas especiais, verdadeiras campeãs da sobrevivência, cujo voejar entrelaça a luz das constelações e o cheirinho das flores silvestres.

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