quarta-feira, 13 de julho de 2011

Quem vai ao mar perde o lugar


Ontem vi a primeira cria de gaivota-de-patas-amarelas, Larus michaelis, no telhado em frente. Era apenas uma.

Ainda vou conferir, mas parece-me que foi mais cedo algumas semanas do que em anos anteriores.

Esta deve ter chegado de telhados mais distantes da vista, a avaliar pelo voo temerário, talvez do prédio das Finanças, onde se juntam em bando por estes dias perto de 50.

Rodeavam-na uma série de gaivotas adultas da mesma espécie, em alarido, barulho que no final do dia 11 já estava em curso nos tais telhados mais afastados.

Estamos a nem uma dezena de quilómetros do mar, mas estas, apesar das patas com membranas interdigitais, não devem pôr o pé na água, suponho.

Nunca como nestes dias o ditado "quem vai ao mar perde o lugar" fez tanto sentido.

Agarrar e defender o ano inteiro um telhado sobranceiro a uma pessoa condoída destas aves de voo planado, é uma valia rara, para elas preciosa.

Há dois dias, pelas 8h30, ao virar no semáforo vi no meio da rua uma gaivota adulta a bicar calmamente uma pomba inerme.

Duas semanas antes, perto do meio-dia, a 5 km dali estava uma outra gaivota junto à rua com uma pomba já sem cabeça.

"A gaivota é uma ave nobre, não é?", perguntava, inocente, o Mário há mais de uma década.

Não é nobre por caçar e comer pombas e crias de pato, nem tão-pouco pelo voo liso com que se desloca no ar.

A nobreza tem a ver com atitudes, altruísmo, generosidade, coragem, estoicismo. Isso já não é tão fácil de perceber.

Valores talvez raros, quando existem, discretos, tanto ontem como nos dias que correm.

Sem comentários:

Enviar um comentário