segunda-feira, 12 de abril de 2010

Montemuro: Noninha à vista

Geometrídeo, Eurranthis plummistaria

Nunca me tinha sido apresentada. E, naquele plano inclinado da serra de Montemuro, assim que as eólicas com prazer ficaram para trás, comecei por ver uma esvoaçar, prudente e selvagem.

A princípio vi-a tão mal que me parecia uma malhadinha. Não me deu confiança. Mas vi outra idêntica, e já me parecia o padrão de alguma Melitaea, espécies que poucas vezes vi, só nalgumas férias.
Voo baixo entre carqueja, numa brisa a definir-se fria, por fim comecei a ver que, afinal, nada disso, eram machos de algum heterócero, o grupo das chamadas borboletas nocturnas.
Por fim, naquela encosta quase do topo até metade da vertente, terei visto umas 40, e algumas consegui fotografar, se calhar com a ajuda do rebanho de ovelhas e cabras que as terá concentrado, à esquerda do curral da transumância.

Cheguei a casa, não achei que merecesse dúvida. Tive a sorte de acertar com a família à primeira. Era um Geometrídeo de tamanho médio.

Ao fundo, a aldeia de Noninha. Quase uma hora passou até chegar à povoação encaixada em prados verdes, onde  a água se faz princesa e os amieiros lhe fazem vénia, pé no ribeiro.

Imaginei aquelas encostas, agora em triste erosão, cheias de carvalhos, bosques enraizados, geradores de terra fértil, protegidas pela bênção da manta-morta feita de folhas, raízes, fungos, invertebrados e uma teia de vida complexa, rica, que a ciência ainda está a começar a entender. Esponjas vivas que retêm a água da chuva, da neve, e a soltam pelas linhas de água, paulatinamente, ao longo do ano, até ao mar.

Lá em cima, na base das eólicas, o fumo de pequenos fogos, ateados na ideia de fertilizar pastos. Terra exposta ao vento, ao sol, à água que corre a ansiar pela queda livre, quando a terra se perde, a rocha surge, e o deserto começa lá em cima, ganancioso, com vontade de cair sobre o vale.

As grandes civilizações surgiram onde foi grande a biodiversidade. Passada a exaustão, o consumo saturado de recursos naturais, são hoje desertos. Onde era a Mesopotâmia hoje o GPS aponta o Iraque...

Até quando baterão ali as asas, num início da Primavera fria aos mil metros de altitude, estes geometrídeos que, confuso, me pareceram a tenaz malhadinha e depois, noutra aproximação, alguma frágil Melitaea...

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