Geometrídeo, Eurranthis plummistaria
Nunca me tinha sido apresentada. E, naquele plano inclinado da serra de Montemuro, assim que as eólicas com prazer ficaram para trás, comecei por ver uma esvoaçar, prudente e selvagem.
A princípio vi-a tão mal que me parecia uma malhadinha. Não me deu confiança. Mas vi outra idêntica, e já me parecia o padrão de alguma Melitaea, espécies que poucas vezes vi, só nalgumas férias.
Voo baixo entre carqueja, numa brisa a definir-se fria, por fim comecei a ver que, afinal, nada disso, eram machos de algum heterócero, o grupo das chamadas borboletas nocturnas.
Por fim, naquela encosta quase do topo até metade da vertente, terei visto umas 40, e algumas consegui fotografar, se calhar com a ajuda do rebanho de ovelhas e cabras que as terá concentrado, à esquerda do curral da transumância.
Cheguei a casa, não achei que merecesse dúvida. Tive a sorte de acertar com a família à primeira. Era um Geometrídeo de tamanho médio.
Ao fundo, a aldeia de Noninha. Quase uma hora passou até chegar à povoação encaixada em prados verdes, onde a água se faz princesa e os amieiros lhe fazem vénia, pé no ribeiro.
Imaginei aquelas encostas, agora em triste erosão, cheias de carvalhos, bosques enraizados, geradores de terra fértil, protegidas pela bênção da manta-morta feita de folhas, raízes, fungos, invertebrados e uma teia de vida complexa, rica, que a ciência ainda está a começar a entender. Esponjas vivas que retêm a água da chuva, da neve, e a soltam pelas linhas de água, paulatinamente, ao longo do ano, até ao mar.
Lá em cima, na base das eólicas, o fumo de pequenos fogos, ateados na ideia de fertilizar pastos. Terra exposta ao vento, ao sol, à água que corre a ansiar pela queda livre, quando a terra se perde, a rocha surge, e o deserto começa lá em cima, ganancioso, com vontade de cair sobre o vale.
As grandes civilizações surgiram onde foi grande a biodiversidade. Passada a exaustão, o consumo saturado de recursos naturais, são hoje desertos. Onde era a Mesopotâmia hoje o GPS aponta o Iraque...
Até quando baterão ali as asas, num início da Primavera fria aos mil metros de altitude, estes geometrídeos que, confuso, me pareceram a tenaz malhadinha e depois, noutra aproximação, alguma frágil Melitaea...
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