sexta-feira, 19 de março de 2010

Quando elas se abrem


Nas últimas semanas é difícil não as ver, às bolotas.

Castanhas no Outono, demasiado rijas para dente humano, abrem-se agora, despem a casca, como se ouvissem uma só música, simultaneamente, e algo que virá a ser um tronco forte lança-se com estilo de filamento para fora da arca do tesouro, os cotilédones, se não me engano. Sem acaso, procura a terra e lança débeis raízes.

Muitas destas árvores sem chupeta soçobrarão. Algumas outras, ano a ano, vão passar uma longa vida a tentar tocar no céu. Sentirão o chamamento, num ritmo certo, que as levará a deixar cair as folhas e, a seu tempo, a aragem primaveril provocar-lhes-á o renascimento verde.

Com uma orquestra tão afinada, entre bolotas ou corais, o Homo sapiens que se ponha fino. A continuar assim ainda sai descartado, como um suicida que o não queria ser, mas que tudo fez para descambar.

Sem curar disso, as constelações continuam a flutuar no Espaço, senhoras do universo, mesmo que nem sempre se revelem aos nossos olhos. A gizarem leis que não mudam, tudo regem como os deuses do Olimpo, segundo diziam os gregos muito antes da bancarrota. 

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